Quero começar contando uma piadoca: até esse ano, eu achava que não sofria com a síndrome do impostor
Você pode estar pensando: “Ana, isso não é engraçado” e eu digo: “bom, é melhor rir que chorar”. It is what it is. Aliás, estou curiosa com Thunderbolts*, então a vibe marvete voltou.
A verdade é que sempre tive ciência de que sou uma pessoa com vários problemas. Me sinto insegura, tenho uma autoestima baixa, medo de não conseguir as coisas que busco. Mas quanto às coisas que já conquistei, nunca notei que achava que não as mereci.
Quando via outras pessoas comentando sobre a síndrome do impostor, eu ficava: “ufa, ainda bem que isso não é um problema”
E chega a ser realmente engraçado, olhando para trás, percebendo que sempre esteve lá. Escondido o suficiente para eu não enxergar, e ao mesmo tempo tão óbvio.
Talvez por isso que certos maus acontecem. Para a gente parar de jogar algumas coisas para baixo do tapete e fingir que não existe.
Particularmente não gosto de acreditar que tudo que acontece tem uma razão. Às vezes não tem nada que justifique algumas crueldades que pessoas sofrem, traumas que sofrem. Mas em algumas situações, acho que é verdade. Algumas coisas acontecem para a gente ver o cenário como um todo.
No meu caso, minha demissão e entrada no Telemarketing.
Quando as coisas mudaram
Tenho quase certeza de que já comentei sobre isso antes, tanto no Instagram quanto aqui na Newsletter, mas como não tenho certeza, aqui vai um pequeno resumo:
Até outubro de 2024, eu estagiava na área da Comunicação. Em dezembro, me formaria e junto viria o fim do meu contrato. E então recebi a notícia de que esse último seria antecipado, pois “fim de ano não era uma boa época para se contratar”. Anteciparam para dez dias depois daquela conversa, ainda em outubro.
E não é querendo ser arrogante, mas sei que fiz um bom trabalho naquele estágio. Dei tudo de mim pra entregar o melhor todos os dias, mesmo quando estava um caco. Só deram o pé na minha bunda mesmo. Fazer o quê. Viva o capitalismo.
Foi desesperador. Eu tirei aquele dia para chorar todas as pitangas, e no dia seguinte já comecei a mandar currículo, com a esperança de que fosse conseguir algo antes de me demitirem.
Não consegui. Na minha área, eu não consegui até agora. E sinto a areia caindo na ampulheta enquanto escrevo isso.
Mas eu não podia esperar pela minha área. Precisava pagar o que faltava da faculdade, isso dependia de mim.
Exato um mês depois de ser avisada da demissão, eu estava na entrevista de emprego que me levou à contratação. Quando avisei que não estaria mais desempregada, todas minhas amigas comemoraram.
E eu só queria chorar.
Não estou falando que é um emprego menos digno. Sendo sincera, tem gente muito inteligente trabalhando comigo, e eu adoro os mais próximos. Eles não sabem, mas torço muito por eles. E sei que torcem por mim também.
Bom, eu entrei em Telemarketing, que é uma área que geralmente pedem só Ensino Médio. Então, pra mim, que estava terminando a graduação, foi uma facada. Se eu era tão boa na faculdade, por que não conseguia nada na área?
Note que nessa época eu ainda jurava de pé junto que não tinha Síndrome do Impostor. Imagina se tivesse.
Atualmente
Nesse meio tempo, entreguei e apresentei meu TCC (nota 10 de todos os membros da banca, olha só), comecei a reescrever 13 Coisas que Clara (Ainda) Precisa Fazer, a Colação de Grau é daqui uns dias. Ganho mais do que no estágio, e mesmo sendo escala 6x1, consigo fazer algumas das minhas coisas.
Eu deveria estar feliz. Sinto que deveria. E não estou. Porque continuo mandando currículos, recebendo nãos (principalmente pela falta de experiência, mas como é que consegue experiência se ninguém deixa?) e estando num lugar com pessoas que me tratam bem, mas com outras que sinto que vão me jogar na fogueira se tiverem a chance.
Estou reescrevendo 13 coisas, mas com o medo de que nunca vou escrever um romance bom, que viverei publicando contos e novelas porque é tudo que consigo, que estou demorando demais para escrever.
Tive que me virar nos trinta para conseguir ir a colação de grau, porque nem usar o banco de horas me deixaram (sendo que tenho hora o suficiente pra faltar por dias k). Não consigo mais postar no Instagram e nem aqui com constância, porque no único dia que tenho livre, minha vontade de criar é abaixo de zero.
Isso que nem falei sobre como sinto que quase todo mundo ao meu redor namora, menos eu kk Mas vamos deixar a vida amorosa quieta hoje, já temos problemas demais para abordar nessa Newsletter.
Enfim. São coisas superboas, parando para pensar, e eu com 21 já conquistei, isso é fantástico. Mesmo que seja em Telemarketing, conseguir um emprego um mês depois de saber que vai ser demitido é foda pra caralho!
E ainda assim, passei por tudo isso pensando que não era o bastante, que eu não estava sendo suficiente. Porque se não fui contratada em meses, obviamente o problema sou eu.
Literalmente hoje pensei: “Não é possível que o problema não seja eu”.
Claro que o problema não é um mercado que pede cinco anos de experiência para vaga de assistente, ou uma pós-graduação.
O salário da que pedia pela pós-graduação era menos de dois mil, aliás. Nessas horas eu odeio tanto o capitalismo.
Tenho tentado fazer cursos para incrementar o currículo. Talvez em algum momento funcione, mas por enquanto ainda não. Considerando fazer uma pós mesmo. Também não terminei o livro, mas tenho escrito sempre que posso. Ainda assim, é assustador o medo de decepcionar as pessoas.
Acho que boa parte da síndrome de impostor é sobre isso, não é? Medo de não ser suficiente para os outros, para aqueles que estão nos assistindo. O terror de ser uma farsa, de descobrirem que não somos tão bons quanto acham que somos. Não há espaço para o nosso desejo, para o que é suficiente para nós.
Enquanto escrevia o parágrafo acima, tentei pensar o que era suficiente para mim, qual é a minha expectativa. E os grilos tão aqui até agora. Só o silêncio.
(Na verdade não, tá tocando Maneskin no fone, mas nada que venha de dentro da minha cabeça. Inclusive ouçam “Baby Said”, é muito boa)
A verdade é que tenho ido tanto atrás da expectativa dos outros, do que eu deveria querer que não sei o que quero de verdade. A maioria das vagas são para Marketing, o que eu não gostaria de fazer. E ainda assim faço cursos da área pra ver se entro, porque quero sair do telemarketing.
Mas por que fazer isso se não gosto? O que eu realmente quero?
Na última sessão que tive, a terapeuta me disse algo muito interessante.
Mas você vai cair do cavalo porque ela disse mesmo!
Enfim. Ela disse que eu não pareço querer algo e ir atrás disso, eu só aceito qualquer coisa que chegue para mim.
E o que eu respondi?
Exatamente!
Que talvez eu não sinta que mereça algo muito além do que me chega, ou que muitas pessoas merecem isso também, e talvez por isso não vou atrás!
A SÍNDROME DO IMPOSTOR VIVE!!!
O pior é que tem muita gente com essa sensação de que não merece mais, de que não adianta ir atrás, ou de que nem merece aquilo que tem.
Por isso que a gente se coloca numas situações tão lixo. Por isso que tem tanta gente curtindo o meme no twitter sobre namorar gente que nos odeia.
A gente ainda faz pior, a gente se odeia.
A gente se importa tanto com o que os outros querem, com o que os outros esperam, com o que “deveríamos” fazer e ter. Nos cobramos a um ponto exaustivo, estamos literalmente nos matando por isso!
Sendo que no final, é a gente que vai pro caixão. Só a gente. O outro vai ficar. Porque nunca foi uma jornada em dupla.
Sempre foi uma jornada individual. E mesmo assim nos tiramos da cena.
Pode ser assustador pensar que, no fim das contas, somos nós por nós mesmos. Sozinhos. Mas, assim como Taylor Swift disse no seu discurso de doutorado honorário, isso também é muito bom. Porque somos nós, não precisamos depender de qualquer pessoa em específico. Isso traz a liberdade.
E, sim, é muito mais fácil dizer isso sendo bilionária igual a loirinha. Mas lembra lá em cima, quando eu disse que certos males pareciam vir com um propósito?
Tudo que aconteceu desde outubro não me mostrou só as coisas que não via. Mas me mostrou que, num único mês, eu tive muita força. Sair de um estágio, conseguir um novo emprego, terminar um TCC.
Então, não tenho um conselho milagroso para destruir a síndrome do impostor. Se eu virar coach picareta, talvez volte aqui e diga. Mas sinceramente, acho que ver as coisas por outro ponto de vista pode ajudar.
Porque se sobrevivemos às piores coisas que já nos aconteceram, se estamos aqui, é para fazer muito mais.